segunda-feira, 25 de agosto de 2008

tudo está bem


Tudo voltou à normalidade. Muita balbúrdia, muita discussão, bastante insegurança, mas no final tudo está bem. O coração bate descompassado, nosso olhar reflete angústia e ansiedade, mas, no final, tudo está bem. Os ventos vêm, os ventos vão, o tempo se acinzenta, o sol aparece de repente, a chuva que se avizinha não vem. Mas, no final tudo está bem. O telefone não toca, a agonia nos agita, a saudade se manifesta, mas no final tudo está bem. Há um esquecimento fortuito, reparo que não falei sobre aquele assunto, mas no final tudo está bem. O corpo dá sinais de cansaço, já não quero ir onde havia pretendido ir ao levantar, há uma vontade enorme de ler, desisto na terceira página do livro, mas no final está tudo bem. Meu pensamento divaga no tempo e minha atenção se perde no ar. Mas no final tudo está bem. O dia passa embalado pelo relógio que empurra seus ponteiros de forma implacável, marcando cada minuto como se ferisse nosso corpo de humilhação. Mas no final tudo está bem. Ouço berros na rua. São ecos da loucura da vida que se orquestram aos roncos de motos, carros e ônibus, mas no final tudo está bem. Onde irão os transeuntes que passam em direções diferentes? Tudo se mescla aleatoriamente, sem início nem fim, mas no final tudo está bem. Não termina o dia sem que antes eu reflita a inutilidade da rotina da vida, mas no final tudo está bem. O sono vem como um cavaleiro alado. Seus cabelos desalinhados aparentam cansaço e tédio. Mais uma noite para dormir, mas no final tudo está bem. E sei que, ao acordar, vou presenciar o maior espetáculo que a vida pode nos oferecer: a grandeza do sol com a infinitude de sua luz devassando meu quarto como um voyeur destemido, querendo simplesmente ver, tocar com a soberania da abrangência, dono e invasor do espaço, mas tudo está bem.

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