terça-feira, 3 de maio de 2011

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

15 filhos de guerrilheiros brasileiros falam de suas vidas em meio à ditadura

domingo, 8 de agosto de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O homem que não falava - um conto.

Calou-se de repente. Resolveu não falar mais. Andaria apenas observando os dias, caminhando pelas ruas e escrevendo. Falar, só consigo mesmo. Assim foi. Ninguém percebeu a mudança, até porque se expressava raramente. Todos já o conheciam como uma pessoa intimista. Realmente ele não se preocupava muito com a presença dos outros, fosse no colégio ou no trabalho. Agora ele chegava, balançava a cabeça como um cumprimento e fazia o que tinha de fazer. Ninguém mais conheceu o timbre de sua voz. Obviamente, como fruto desse comportamento, nunca conheceu o amor. Nunca viveu momentos de paixão, nunca conseguiu olhar nos olhos de ninguém. Dizem os mais antigos que, ao contrário do que é conhecido, foi um fracasso de amor que se passou há muitos anos em sua vida que o tornou assim. Mas são apenas comentários fortuitos, meras conjecturas. Em sua casa, onde mora em completa solidão, não se ouve o canto de pássaros, tampouco latidos de cães. Contraditoriamente ouve-se música. Uma música quase sempre suave, pianística, que vem dos CDs de clássicos que costuma colecionar. Esse som erudito é a única presença da beleza e da poesia naquele lugar. Curiosamente as músicas são todas instrumentais. Não há canção lírica. Ele não gosta de ópera porque não gosta da voz humana. O tempo passa no silêncio de sua mudez. Os carteiros e os vizinhos desenvolvem um ritual próprio para poderem se comunicar com ele. Olham-no. Se há algo a falar, a “comunicação” é rápida e sem espera de retorno. Ele escreve coisas. Usa folhas soltas que depois são guardadas com cuidado em um baú antigo que ganhara de seu pai. O que escreve é um grande e eterno mistério. É a maneira de falar por escrito. Certa vez ele esqueceu a porta de sua varanda entreaberta e um vizinho tentou avisá-lo. Nessa hora, ele escrevia, mas quando percebeu aquela presença inesperada rasgou o papel em pedacinhos. Ato contínuo, fechou a porta com rapidez, praticamente no rosto do homem que morava ao lado de sua casa. Estive pensando que algumas vezes vemos algumas películas com personagens desse tipo. Não que sejam inteiramente mudos por decisão própria, mas com atitudes bizarras e incompatíveis com um convívio humano saudável. Ele resolveu se calar para sempre. Não sabemos o seu nome, desconhecemos seus objetivos de vida, o que faz e o que pensa fazer. Hoje amanheceu com o sol a pino. Pela calçada ele caminha com um boné branco e inteiramente limpo. Para onde irá? Para que sair? Olho para sua casa e imagino o que haverá naquele velho baú. Sinto vontade de ler as folhas que lá estão. Ou será que não há nada escrito e foi tudo fingimento por gestos aleatórios? Como inventor do personagem também não posso destapar todos os seus segredos. Como revelar a vida de alguém que está inteiramente dependente dos meus desejos de invenção? Calei-lhe a própria vontade. Dei-lhe uma vida inócua. Como trair o meu personagem? Como expor suas vísceras? Não tenho coragem de trazer à luz as profundezas de sua alma. Amanhã vai ser um novo dia. Pode ser que eu empreenda mudanças radicais nessa sua vida árida e dê-lhe um outro destino. Quem sabe remetendo-lhe ao século XIX ou durante a Segunda Grande Guerra. Seria uma experiência incrível introduzi-lo nas trincheiras, no front, para que possa viver aquela realidade sangrenta. Dar-lhe-ía uma vida longa, sobrevivendo às batalhas, fazendo-lhe ganhar medalhas, socorrer feridos e voltar incólume para casa. Quem sabe fazendo-lhe um paroleiro. Mas, segredando ao leitor: a minha verdadeira vontade, é que tudo isso não sofra qualquer tipo de transformação. Constituí esse homem para viver calado, para sofrer calado, para manter o mistério de sua identidade, vivendo os seus dias como um ermitão, enclausurado em meus delírios de escritor.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Você é que dá vida ao seu passado...

Trinta e quatro anos se passaram . Foram momentos que se projetam hoje como uma película . Dias acomodados sobre outros dias . Saudades que se assoberbaram. Muitas lágrimas derramadas, muito riso manifestado. Dias, semanas , meses, anos ... Três décadas montando firme guarda diante das lembranças. São devaneios e pesadelos. São sonhos entrecortados, jamais reconstituídos...Instantes acumulados sem cronologia, sem tempo definido. São manhãs de sol, dias frios, dias de temporais, dias de chuva miúda, às vezes serôdia, que sempre estiveram comigo. Recordo, esqueço, lembro, medito, volto a lembrar ... O que foi já passou como um raio eterno... ... Foi um inesquecível marco em minha trajetória, um profundo sentimento, somente meu...A partir dali, a vida se fez jovem. Como pereceram coisas a que dava inútil valor!... Tudo parece desnecessário e infrutuoso quando esse sentimento aflora e irrompe como um trovão ensurdecedor...Passei aqueles instantes como um rei, com coração de leão, vencendo batalhas, destruindo fortalezas, conquistando mundos alheios ao fincar minha bandeira em terras de ninguém...Apenas a poesia declamada em minha mente poderia herdar a herança dessas terras... Afinal, são planícies ocupadas, planaltos já desbaratados, que até já foram ocupados ... Nesta manhã, todo esse espaço de vida veio de novo à superfície . Não sei onde vivem as pessoas com as quais convivi. Sei que estou aqui, pronto para sempre manter viva a loucura do livre pensar...O diário, onde escrevi meus textos mais longínquos, eu nem mais o leio. Tampouco escrevo hoje em suas páginas. Estou certo em dizer que mentiria se fosse acrescentar um til ao que lá está. Não posso mais reconstituir os fatos, com clareza e lealdade, com o verdadeiro sentido das vicissitudes errantes do meu caminho. Caro leitor, que refaz o meu texto com a sua especial interpretação. Lembre-se que hoje a vida escreve no livro de sua vida. É uma escrita imaterial, mas indelével, porque só tu poderás dar valor ao que fizeres neste dia.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diário descoberto na lembrança

Tempos de café com leite e pão com manteiga. Tudo quentinho, à mesa com todos, música no rádio elétrico, o sol batento nas coisas, os pássaros cantando fervorosamente pelo dia lindo que se faz. Ouve-se o canto de um galo além. Não passa carros na rua e quando passa é o leiteiro. O lixo é da SURSAN. Mas o café me sabe delicioso. Mês de julho é mês de férias. Minha mãe senta-se comigo à mesa e comenta um fato ou outro das notícias que estamos ouvindo. Eu ouço tudo feliz, protegido, debaixo de um teto que me acolheu. Meu pai já está saindo para o trabalho. Não percebo quando ele dá tchau e minha mãe me chama à atenção. Gosto desse cuidado. Gosto desse afeto na correção. Acabo o café e estou pensando nas coisas que vou fazer: vou ao jornaleiro comprar minha revista em quadrinhos, depois jogar bola na rua com meus colegas e por fim almoçar nesta mesma mesa. Darei também uma escapadinha na casa do meu avô que fica nos fundos. Lá estará sempre com o seu sorriso terno e amável. Depois olharei o pé de abiu para ver se há alguma fruta madura e voltarei para ler minha revista. Gosto de ouvir as novelas de rádio com minha mãe. São da Rádio Nacional. Ouço as galinhas anunciando a colocação de ovos. Tudo muito calmo, divertido...Procuro trazer esse tempo para hoje...É impossível, tudo mudou...São páginas de um diário que não escrevi, mas que ficou registrado na minha mente. O ambiente daqueles dias já não é mais o mesmo, a cultura e as pessoas tampouco são. Eu, então, muchacho, imagine...Um garoto sem mácula se vê transformado. Digo, entretanto, que vivemos os melhores dias de nossa vida. São dias de grandes expectativas. Espero 2012 com o dom da fé que há em minha mente. Não peço mais nada. Simplesmente confesso. Como escreveu o apóstolo Paulo: que Abraão chamava as coisas que não eram como se fossem. Eu faço o mesmo, trago à existência, em minha vida, os poderes do século vindouro - o que vivemos. Os religiosos desconhecem isso, não gostam disso, odeiam isso. Mas tudo isso está escrito em suas próprias bíblias. No tempo de garoto eu vivi anos incomuns. Exercitei os meus sentidos, conheci o bem e o mal, cresci para me encontrar com a ciência da nova criação - o evangelho de Paulo. Hoje eu olho para trás e vejo que minha trajetória foi linda. Reinei em vida sobre o sofrimento e encontrei graça e contentamento nos dias que passaram. Hoje eu reino com essa justiça. Há frutos que se manifestam diariamente na minha vida. E o grande mistério que se aclara é que tanto podemos falar de coisas do passado como do presente sem nos magoarmos, sem ressentimentos, sem amargura...O passsado só não tem o conhecimento novo. Foi um espaço especial, uma outra geografia, para os primeiros passos da senda por onde eu haveria de seguir.

http://www.jesuscristohomem.blogspot.com