segunda-feira, 27 de outubro de 2008

CAFÉ COM LEITE E COCA-COLA por Cláudio Lessa



Brasília (DF) - Na política do café-com-leite e Coca-Cola, algumas surpresas que não foram, exatamente, surpresas... e algumas avaliações post-mortem que podem ser chuva no molhado, mas ainda assim devem ser destacadas. Não é à toa que o Conselheiro Acácio tem sobrevivido por todos esses anos, não?

No Rio de Janeiro, a escolha de Eduardo Paes foi uma surpresinha que valeu um e meio pontos percentuais. A avaliação do resultado carioca talvez possa ser vista assim: a despeito da poderosa máquina tocada pelo governador Sérgio Cabral, com o apoio do Planalto, Eduardo Paes perdeu o rumo da vitória no momento em que resolveu enviar uma infame cartinha de desculpas ao chefe do desgoverno e sua loura algema. Talvez as opções pouco ortodoxas de Fernando Gabeira em relação às drogas, à prostituição e outros temas tenham assustado parte dos cariocas, que ficaram entre a cruz e a caldeirinha. Acabaram optando pela cruz.

Em Minas Gerais, a fabricação de um candidato de matéria plástica a partir de uma aliança não-tão-espúria assim - afinal de contas, PSDB e PT são esterco do mesmo pasto - foi, inicialmente, vista como uma afronta ao espírito democrático mineiro. Começou aí um movimento de repúdio a essa tentativa de se "enfiar um candidato goela abaixo" do eleitor - um candidato sem passado conhecido, ruim de fala, etc. Nesse momento entra Quintão em cena, com seu discurso simpático, fala mansa, caipirão... e a reação é imediata: Quintão pode representar a alternativa verdadeiramente popular a essa imposição de cima para baixo, numa exibição explícita e indecente de transferência de prestígio (no caso, do governador para um "poste"). Só que havia um pequeno problema, e esse problema pode ter determinado a recuperação de Lacerda - o "poste" de matéria plástica moldado por Aécio. Quintão tinha ligações problemáticas, do ponto de vista eleitoral, e essas ligações foram divulgadas. Eram conexões com Garotinho, com o pior da política de Minas, etc. Nessa reta final, uma mãozada de lama dessas, bem dada, prejudica. E foi aí, talvez, que o azarão perdeu fôlego.

Em São Paulo, onde o atual prefeito foi ligado a Paulo Maluf, Celso Pitta e outros símbolos pétreos da corrupção, Marta Suplicy estava ligada ao partido do mensalão. Zero a zero. Nessa área, ninguém podia jogar pedra em ninguém - ainda que a tresloucada candidata tenha feito isso e ouvido a resposta descrita acima. O trabalho do governador José Serra em favor de Kassab, azeitando a máquina, foi decisivo para minar as chances de Marta - que, na realidade, queria essa prefeitura como troféu para exibi-lo mais adiante, quando estivesse buscando voar mais alto. Marta percebeu e se desesperou. Logo ela, coitada, a resolvida, analisada, sexóloga... Chamou Kassab para a briga no único terreiro onde nunca deveria pisar: o da vida particular. Queria saber se ele é casado ou se ele é gay. Kassab saiu pela tangente com elegância e o eleitor percebeu, mandando a Suplicy(?) Warmus(?) Favre(?) para o espaço.

No fim das contas, tudo indica que o PMDB, grande parceiro do atual desgoverno, foi o grande vencedor. Isso deve assanhar a turma, deve aumentar o apetite por cargos no que resta da atual administração, provocando uma enxaqueca de grandes proporções no presidente Lulla. Vai aí uma dosezinha de 51?



(artigo publicado no site http://www.diretodaredacao.com no dia de hoje)

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