
“Acelera a marcha o trem pelo sertão e eu só levo saudade no meu coração. Lá na curva o trem apita, desce a serra, a saudade aumenta, uma coisa me atormenta, vem falar do meu amor.” (marcha de Lauro Maia)
Os versos lembram uma saudade, um amor distante, ou separação, sei lá. O trem sempre é um personagem de fazer distâncias, de produzir solidão, de levar as pessoas para longe, de separar corpos, de ligar roteiros, de produzir emoção... Os trens intervieram decisivamente na vida da gente do velho oeste americano. Muitas terras foram invadidas para a colocação dos trilhos, muitas mortes foram causadas, muitas injustiças foram feitas... Quantas famílias perderam suas propriedades... Quantos casos de intimidação para que as pessoas abandonassem seus ranchos, seus sítios... Os valores de ressarcimento sempre eram ínfimos. Enfim, hoje se fala em trens ultramodernos, trens-balas, de velocidade inimaginável. Os trens foram alvo de assaltos. No Brasil, o assalto do trem pagador, com o “célebre” bandido Tião Medonho, virou filme. Já tivemos morando no Brasil um dos maiores assaltantes de trem da história recente. Ronald Biggs, que ficou conhecido como o ladrão do século. Ele e seus comparsas precisaram de 28 minutos para assaltar um trem postal que levava 2,6 milhões de libras esterlinas, em Cheddington, na Inglaterra, no dia 8 de agosto de 1963. Preso, conseguiu fugir da prisão e chegou ao Brasil em 1974, onde passou mais de três décadas e enfrentou algumas batalhas judiciais. Não pôde, entretanto, ser extraditado porque o Brasil e a Inglaterra, à época, não tinham tratado de extradição. Hoje Biggs está na Inglaterra, em liberdade, em razão do agravamento de seu estado de saúde. No Rio de Janeiro temos a Supervia. Não dá para fazer poesia com supervia, embora as palavras rimem. Não dá para pensar em saudade, diante de tanto descalabro, diante de tanta falta de respeito com o usuário... Prefiro os tílburis dos romances de Machado. Ou que voltem as diligências...
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