a era do pensamento único...

“Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer....”

Cazuza

Lula sobe com Dilma (off course) ao palanque, armado no pátio de uma escola qualquer, e diz: Fla-companheiros e Fla-companheiras. No mastro tremula uma bandeira horizontalmente listrada, com as cores vermelha e preta. Lula, com a camisa do Flamengo e Dilma com os cabelos pintados no estilo Wagner Love representavam ali o pensamento único. Esse foi o meu sonho ou pesadelo noite passada.
Desci para comprar jornal e o ouvi um rapaz no elevador do prédio perguntar a outro jovem: - Sabe qual é população de Portugal? A resposta foi um não sonoro. Com um sorriso nos lábios o jovem exclamou: cerca de 12 milhões de habitantes. Sim, e daí? perguntou o que ouvira a sapiência demográfica do perguntador. O Mengo tem mais torcida do que a população inteira de Portugal. O elevador chegou ao térreo, eu fui ao banheiro dos porteiros vomitar, sabendo o que aquilo significava.
Cheguei à banca de jornal mais próxima e lá estavam todos os jornais – obviamente numa obra de arte do jornaleiro – expostos na página de esportes onde estavam as fotos e comentários do jogo do Flamengo neste domingo. Olhei aquilo e virei-me para o jornaleiro para pedir o jornal. E lá estava o mesmo com a camisa do Flamengo.
Lembrei-me imediatamente daquela piada do português, que dormira numa pensão compartilhando um quarto com outra pessoa. Alta madrugada, o rapaz não agüentava mais o ronco do português e, desesperado, foi defecar no banheiro, reservou um bom pedaço de suas fezes e passou no nariz do lusitano. Pela manhã, ao acordar, o português abriu as janelas e deu aquela respirada profunda. Obviamente, sentiu aquele cheiro característico. Olhou para os lados e inspirou de novo. Como o cheiro não passava, exclamou em voz alta: porra, cagaram no mundo!
O país de uma torcida global é o que a mídia está preparando para esses tempos.

Nelson Rodrigues detestava o pensamento unânime. Detestava o consenso, que leva à unicidade de pensamento. Enganam-se os que acham que o consenso abrange a todas as idéias. O consenso sempre limita as idéias.
Há uns 15 anos aproximadamente foi implantada nas empresas uma técnica de tomada de decisão denominada “brainstorming”. Essa técnica ajuda o grupo a formular idéias sejam elas boas ou más, sem qualquer tipo de censura inicial. O líder, que comanda o processo, acaba ele mesmo influenciando o grupo e adotando a decisão que mais lhe convém.
Eu pergunto: o que sai de uma explosão? Saem estilhaços e perde-se o todo. A “explosão cerebral” faz o mesmo. No frigir dos ovos, o que obtém ao final é uma idéia implantada em que todos concordam, já que “aleatoriamente” participaram desse processo. Cumpre-se aí o famoso perigo em que a moldura é mais importante do que o próprio quadro.

A mídia, em função da audiência, adota o consenso como política. Mas, como toda informação é precedida de uma intenção, é evidente que o que é veiculado obedece a objetivos adredemente preparados pelos donos da rede de comunicação.

Pois bem, foi um sonho e tanto o que tive esta noite. Deu-me medo ao ver o verde-e-amarelo ser substuído pelo negro e preto.

Minha tia Albertina, sempre atenta aos fatos, exclamou: seria melhor uma cruzinha de malta, ao invés de Ordem e Progresso.