segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Amélia não tinha a menor vaidade...


Ouvi Amélia. E soube que, à época de sua composição, ninguém queria gravá-la. Achavam-na por demais “chorosa” e até Chico Viola se esquivou. Coube então a Ataulfo Alves lançar um 78 rpm e fazer um dos maiores sucessos da música popular brasileira. Mário Lago pôs-lhe letra e até hoje ela é cantada onde se reúnem amantes da boa música. Estive pensando esses dias no público que fica sem comer, exposto ao sol escaldante, como possibilidade de levar borduada de seguranças e da própria força policial para ver uma cantora americana chamada Beyonce. Tia Albertina, que tem aquilo roxo, exclamou ao saber das notícias: “meu sobrinho, me lembro como Carmen Miranda sofreu aqui no Brasil. Diziam que ela se havia “americanizada” e a imprensa que hoje deita tapetes vermelhos para esses artistas de duração meteórica, causaram danos à maior estrela latina que a América já conheceu.” Albertina fez silêncio, acompanhado daquele gesto de saudade, sabendo que aqueles tempos de Carmen foram tempos de nacionalidade que jamais se repetirão. Tio Manoel é mais flexível e briga com a titia quando ela começa a se queixar da alienação que assola nosso país. Outra coisa que me deixa perplexo é a forma com que os locutores de rádio ficam encantados com o futebol de São Paulo e com os jogadores do Flamengo. Ontem só se falava em Robinho. Na maternidade de Vila Matilde nasceram cinco Robinhos ontem. No Rio, haja bebês com o nome de Wagner e Adriano. Tia Albertina grita um porra e começa a cantar o hino do Vasco. “No atletismo és um traço de união Brasil-Portugal.” Fui muito perseguido em criança por ser vascaíno. Meus coleguinhas diziam: “cara, isso é time de português”. Só sei que pude ver meu time passar o rodo no Mengão muitas vezes. Quando comento isso, Tia Albertina pára de fazer o que está fazendo e vai me dar um abraço carinhoso. Meu vizinho do lado, quando o Olaria empatou com o Flamengo na semana passada, colocou uma bandeira negra e rubra na varanda comemorando não sei o quê. Ventou à beça noite retrasada e o vizinho no playground recuperou a bandeira que se projetou dentro da piscina. Tia Albertina, com aquele sorriso matreiro, nada falou... Enquanto isso, os versos de Amélia seguem em minha mente, lembrando das lindas pastoras de Ataulfo fazendo o “back-vocal”: Amélia não tinha a menor vaidade... Quem consegue ser assim ao ver Beyonce se apresentar com aquele corpo descomunal produzido em academia?

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