quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Uma eterna criança em Fernando Sabino...


Fernando Sabino, grande mineiro, grande escritor, certa vez falou que “quando crescesse gostaria de ser criança”. O mais curioso é que Sabino nasceu em Belo Horizonte, quando se comemorava o “dia da criança” de 1923. Minha amiga Maria Bonita, que é um arquivo ambulante de frases e tiradas mágicas pensou, matutou e disse: seria nascer ao contrário! Lembrei-me que esse processo já foi tema em 2008 do filme “O Curioso Caso de Benjamim Button" estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchett. Vi o filme e concluí que às vezes a criatividade não pode esbarrar nos pilares de certos caprichos da sétima arte. A película talvez não tivesse acrescentado aquilo a que estava proposta, embora o tema fosse inovador e trouxesse uma abordagem pouco comum aos roteiros de Hollywood. Filmes à parte, Sabino estava refletindo sobre a possibilidade de renascer em uma nova categoria de ser humano: um adulto inocente, querendo ser “destraumatizado” de uma sociedade doente, castradora e servil... Seria, como comentou Tio Manoel, “ressurgir das cinzas, meu sobrinho.” Era uma outra perspectiva, mas Tia Albertina, a meu ver, foi quem concebeu a expressão mais próxima ao que Sabino quis dizer: “nosso Fernando de “O homem nu”, com uma grande penca de anos vividos, alcançando a terceira idade, já estava farto das relações sociais hipócritas do mundo em que estava e apelava para um ventre materno abstrato como segunda chance de crescer feliz como velho até ser criança tal qual àquelas dos quais falou Jesus de Nazaré a seus cabeçudos apóstolos”. Tio Manoel não gostou desse conceito, pois aí seria repetir a idéia de Button de forma literária e trazer conceitos bíblicos a uma temática livre do pensamento. Maria Bonita acrescentou para tristeza de titia: parece que estou vendo o filme de novo. Cá com os meus botões, eu pensei, já que há uma impossibilidade natural desse fenômeno se concretizar, eu prefiro ter a mente com a simplicidade de uma criança, sem perder a compreensão da necessidade de fazer as melhores escolhas e de tomar as melhores decisões como adulto. Sabino já se foi de nosso convívio desde o final de 2004 com seus 81 anos, talvez como sempre quisesse ser: uma eterna criança.

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