quarta-feira, 27 de agosto de 2008

de novo Amadeus


Hoje assisti pela enésima vez ao filme AMADEUS. Está num DVD que guardo com cuidado, procurando deixá-lo o mais possível protegido do pó, da umidade e da claridade. Tudo isso para guardar o tesouro que está retratado neste filme. Tive o privilégio de vê-lo na década de 80 num cinema da rua Augusta em São Paulo. O filme em tela grande era espantoso. O som, magnífico, as imagens pareciam entrar em seus olhos, o cheiro de pipoca enebriava-me o olfato. O drama de um Mozart alegre e terrivelmente trágico, de uma genialidade livre, um estroina de caráter, lindamente vadio, e perseguido por remorsos que o conduziriam à sua destruição. Na história, como em toda boa história, há um vilão. Um destruidor. Uma alma covarde e insolente que se julga invadida por sintomas de ciúme, de baixa-estima...Esse homem, triste homem, louco homem, se embrenha nesse enredo como um condutor permanente do calvário do compositor maior. Músico da corte austríaca, excelente compositor, reconhecido pelas autoridades, pela elite do reino, porém, sem possuir o dom da excelência, o dom divino de imaginar o invisível, de conceber o inatingível, de produzir o inconcebível. Esse personagem matreiro, mesquinho, subalterno, dissimulado e assassino, pouco mais se assemelha, com seu ardil, a um tapete manchado de sangue, por onde se desenvolve a vida de Mozart até o seu trágico final.
Seu nome: Antonio Salieri. O filme traça um perfil nítido, claríssimo, dessa criatura tão comum em todas as épocas, tão perto do poder, se locupletando de sua mediocridade, buscando para si o que não pode ter, porque as qualidades intrínsecas do ser já vêm desde o ventre materno e mesmo que se tente aprendê-las haverá um limite para incorporá-las. Nem sempre os mais preparados são os que encontram a luz, porque a capacidade não é para quem quer, mas pela capacitação natural do espírito. Salieri transitou entre os talentos mediano e bom, coube a Mozart desenvolver o que não se consegue com o simples querer. A genialidade é o apanágio dos escolhidos.

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