terça-feira, 19 de agosto de 2008

sobre bandeiras e monumentos


Vejo bandeiras tremulando no tempo. Bandeiras de todos os tamanhos, de todas as cores...bandeiras simbolizando idéias, bandeiras simbolizando desejos, bandeiras simbolizando nações...Estou diante de um monumento. Os monumentos sempre me chamaram a atenção, pois falam de lembranças, de marcas, de vitórias, de conquistas, de agradecimentos...A história se materializa através dessas construções e também de contradições, porque devemos reconhecer que nem sempre ali está retratada a verdadeira história. Nem sempre ali está a correta versão da história. Há monumentos que retratam simplesmente a história oficial. Mais tarde, quando lemos livros e teses sobre eventos que se passaram em nossos rincões, percebemos que fulano não merecia aquela glória toda, que sicrano não era quem pensamos que fosse. A história é fascinante por isso, porque não é como a química ou a física. Não é simplesmente dizer: "a molécula é formada por átomos". Ninguém discute isso. É uma verdade irrefutável. Porém, os fatos históricos são passíveis de interpretação, de julgamentos, de grande e infindáveis questionamentos. Desconfio da história pronta, daquilo que nos enfiam pela goela abaixo dizendo ser a pura e cristalina verdade. Estamos chegando ao final da Olimpíada. A China surpreende o mundo com o número de medalhas de ouro superior à nação de Busch. Mao nem supôs tamanho intento. Os produtos made-in-china invadem o mundo, a China já é considerada uma potência, mas eu te pergunto: gostarias de morar lá? Quando compras um produto de alta tecnologia que vem daquele país, será que conheces o salário médio do trabalhador chinês? Mas as nações e seus presidentes não se importam com esse lado histórico chinês. Para lá mandaram suas delegações, alguns chegaram a comparecer no dia da abertura dos jogos e se deslumbraram com tamanho investimento que aquele povo fez para mostrar ao mundo a sua força, o seu poderio atlético, o seu potencial econômico...E eu pergunto: tanta medalha de ouro vale o ar que o chinês respira? Tanto desenvolvimento econômico é capaz de abrandar a falta de liberdade de expressão que a Olimpíada pôde esconder? As bandeiras tremulam nos ginásios, nos estádios, nas pistas, nos lugares aonde o esporte permeia naquele outro lado da Terra. Comecei falando em monumentos, em representações, em glórias...Lembro-me de uma atleta com o seu corpo totalmente tomado por distenções e muitas dores. Ela entra no estádio, que é o ponto final da maratona. Vai cambaleante...quase não pode caminhar...mas há resquícios de uma força que só os vencedores conseguem trazer à superfície quando tudo parece estar perdido...E o estádio se levanta, e grita, e aplaude, e chora, e observa aquele corpo trôpego de uma mulher forte, que chegou por último, mas que completou a prova com a ousadia de usar a sua mente contra o seu corpo. Não sei o nome da atleta que ganhou a medalha de ouro nessa maratona,nem a de prata, nem a de bronze, nem a dessa atleta, mas não esqueço da atleta que chegou por último, do seu esforço descomunal, do seu espírito superador sobre as piores circunstâncias...Quem deve ser levado em conta é o que não se deixa abater pelo que vê, é o que não se acovarda pelo que ainda tem que passar...Não deve ser o auto-suficiente que bate no peito querendo mostrar sua superioridade, mas o que carrega em seu ser a força do não desistir, do estar sempre preparado para sempre prosseguir, mesmo perdendo, mesmo magoando a si mesmo, mas sempre com o pensamento de que fez o que deveria ser feito...Para esses: que haja monumentos, que as bandeiras tremulem pelo desconhecido feito de vencer a si próprios...

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