quarta-feira, 10 de setembro de 2008

manias...


Hoje acordei e comecei a lembrar-me de coisas que estavam arquivadas nos recônditos mais profundos de minha memória. Lembrei-me de quando meu pai, déspota como foi, obrigou-me a disputar uma prova de 100 metros pelo Fluminense - eu tinha perto dos meus 12 anos. Levou-me abruptamente para treinar em um sábado - a corrida seria na manhã seguinte, no domingo - e comecei, juntamente com o técnico a dar voltas contornando o campo de futebol em Álvaro Chaves. Sábado à noite não conseguia nem pôr os pés no chão, quando acordei pela madrugada. Tive estiramento muscular em ambas as pernas e, mesmo assim, meu pai me levou ao Fluminense no dia seguinte, e de ônibus. Fui submetido a massagens, mas o técnico avaliou a minha situação física e, obviamente, contrariou a minha participação. Meu pai exclamou quando fomos para a arquibancada: és um frouxo!


Uma coisa puxa a outra. E a memória tem a mania de relacionar fatos com outros, muitas vezes fora do contexto, mas com a mesma pessoa e com comportamentos semelhantes. Pelo meu pai - não pensem que ele foi um mau pai, e não pensem que eu não o amava. O que havia, entretanto, era um fosso sem ponte entre mim e ele. Ele era sensível e agradável às pessoas de fora, mas era irredutível e ditatorial comigo e minha mãe. Também não estou escrevendo um auto-de-condenação, não, não estou e sei que não estou. Apenas vêm à minha mente passagens muitas vezes macunaímicas, pelo estilo de educação que recebia de meu pai. Por exemplo, quando meu pai resolveu me inscrever numa academia de luta-livre. Não gostava desse esporte, mas fui obrigado a usar quimono e de levar muitos tombos e tapas na cara. Minha mãe sofria comigo, mas meu pai era o dono da situação. Outro exemplo, quando meu pai quis que eu aprendesse a tocar acordeão. Wow, que instrumento horrível!(perdoem-me os que o apreciam. Até há bem pouco tempo quando ouvia ao saudoso Sivuca, toda aquela frustrada experiência vinha ao meu pensamento. Anos mais tarde foi a vez do violão.
Sem querer,meu pai acertou na escolha e hoje posso me acompanhar adequadamente nas músicas que gosto de cantar. Foi com o violão que pude, muitas vezes, cantar algumas canções que rascunhei para a mulher que muito amei e com quem vim casar. Com essas músicas, segundo seu relato, é que eu a conquistei. Foi a melhor mania que meu pai pôde ter para minha felicidade. Gosto de uma música do apresentador de televisão polêmico Flávio Cavalcante, cujo título é Manias que dizia assim:
"Dentre as manias que eu tenho uma é gostar de você
Mania é coisa que a gente tem mas não sabe porque
Mania de querer bem, às vezes de falar mal
Mania de não deitar sem antes ler o jornal
De só entrar no chuveiro cantando a mesma canção
De só pedir o cinzeiro depois da cinza no chão
Eu tenho várias manias, delas não faço segredo
Quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo
De contar sempre aumentado tudo o que diz ou que fez
De guardar fósforo usado dentro da caixa outra vez
Mania é coisa que a gente tem mas não saber porque
Dentre as manias que eu tenho uma é gostar de você"
Gostaria que meu pai pudesse ler algumas coisas que ele deixou impresso em minha mente. Não me arrependo de ter compartilhado de seu tempo e de ter sido obrigado a ser participante das suas muitas manias.

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