sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

TIM MAIA


Escrevo no primeiro dia de 2010, depois do exacerbado consumismo de natal e das manifestações carnais de sentimentos sinceros e muitas vezes falsos, e da repetição de chavões, tais como: feliz ano novo, tudo de bom, saúde, prosperidade, muito dinheiro no bolso... Isso tudo ao lado de tragédias, acidentes, mortes no trânsito, deslizamentos de terra, soterramentos, enxurradas... Mas eu escrevo como se fizesse um parto. Não tem sido fácil observar toda essa confusão de final de ano e ainda ter inspiração para escrever. É por “fórceps” que saem letras vadias formando expressões. É por um sentimento de dever que o texto vai se abrindo no monitor. Mas, penso alucinado, escrever o quê? Sobre o quê? Com que intenção vem o meu texto? Que palavras empregar quando as idéias ainda são relapsas acordando nesta sexta-feira? Pensei em "meter o pau" nos políticos, mas isso já virou moda...Pensei em elogiar alguns escritores de Texto Livre, meus amigos, sem nunca tê-los conhecido, mas não tenho esse dom do elogio. Penso que se são meus amigos e isso basta. Pensei em falar das mesmas coisas que acontecem no Rio de Janeiro: as enchentes repetitivas do verão e a incompetência das autoridades em perceber que todo ano isso acontece e algo tem que ser feito antes que aconteça. Mas isso é dar espaço político para essa gente. Prefiro que as mortes e as desolações do povo tomem conta de suas consciências cauterizadas. Como a música é um tema de vida, de poesia, de encantamento, então resolvo escrever algumas linhas sobre Tim Maia. O grande artista chamado Tim Maia. O grande sacana chamado Tim Maia. O grande músico, cantor e compositor chamado Tim Maia. Comprei, por esses dias, um DVD gravado no Hotel Nacional em 1989. Todos os seus sucessos mais significativos ali estão. Tim está irreprovável nesse disco. A “sacaneidade brasileira” desse artista está toda exposta ali, escancarada, deliciosa... Seus músicos de aspecto pouco comum, sua comunicação peculiar com o público, sua forma de mexer com o corpo e sua voz inigualável são ingredientes de uma alegria serelepe que só Tim podia provocar. Os depoimentos de Tim são sensacionais. Destaco o que diz quando foi deportado dos Estados Unidos e que lá esteve preso, “sem nenhuma razão”, período sobre o qual confessa que foi quando mais sofreu em sua vida. Quando está cantando a música “Sossego”, ele fala sobre um desentendimento com um violoncelista que contratara para participar de um show. O músico não se sente muito à vontade chegando-lhe a dizer: "mas para que um violoncelo numa música de uma nota só?" Tim então lhe diz: “mas aí é que tá o barato!”. Vale à pena curtir essa jóia preciosa que a tecnologia preservou. A voz de Tim Maia ainda ecoa por aí, nos espaços celestes, no vento, na imaginação do tempo, em nosso sentimento...

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